Celebramos o Dia Mundial da Dança com o solo de e com Paulo Ribeiro, no dia 29 de abril, às 21h30. Em 33 anos de carreira, Paulo Ribeiro dançou o seu primeiro e único solo, Modo de Utilização, em 1991, na Bienal Universitária de Coimbra (BUC). Em 2006, depois de ter dançado, precisamente, Malgré Nous, Nous Étions Là anunciou que não voltaria ao palco como intérprete, mas em JIM percebeu-se que a quebra desse voto estaria iminente e assim é.
Em Sem um tu não pode haver um eu, Paulo Ribeiro não só regressa ao palco, como o faz sozinho, apenas com Ingmar Bergman, para talvez construir uma coreografia feita de várias felicidades. Mergulha nas “verdadeiras palavras, aquelas que transportam a vida, as que estão cheias de sentidos, as que Ingmar Bergman filmou acompanhadas de horas, fantasticamente longas, de vida vital”. “É com estas palavras e as suas músicas que eu gostaria de voltar a dançar e talvez, desta vez sim, dançar pela última vez…”, escreve o coreógrafo.
Nesta coreografia, que torna inesquecível o tema Insensatez”, de Robert Wyatt, há a dança de um coração em carne viva. Um eu que quer conjugar a segunda pessoa do singular, como quem diz “sou tu, também tu”, mais do que “sou teu”. Há mais entrega que posse. Entre gestos lentos e límpidos, passos periclitantes e desmoronadiços, e movimentos sísmicos, Paulo Ribeiro desenha um mapa afectivo. O coreógrafo transforma-se num sismógrafo de tremores emocionais. Nesta peça, há amor, ódio, solidão, angústia, dilemas conjugais, luta interior, desmoronamento, mãos e mãos. E há convulsão. Um corpo, que de tão vivo, joga xadrez com a morte. No final, uma catarse que ilumina. O choro que irrompe, como orvalho ao amanhecer.
Fotografia José Alfredo